A história do "Estádio Mané Garrincha" - PARTE 3 ( final )

Última parte da série sobre a história do maior e principal estádio da capita federal. Ao final uma entrevista com o jogador Péricles, um dos mais importantes jogadores revelados pelo futebol da capital.
Em breve o blog trará texto exclusivo a respeito do novo momento do Estádio Nacional de Brasilia Mané Garrincha, que foi repassado à iniciativa privada no final do ano de 2019 pelo governo do Distrito Federal.


MANÉ GARRINCHA TEIMA EM EXISTIR (#3)

Por Mauro Jácome (texto publicado na Revista Redemoinho, do curso de Jornalismo do IESB)


Dilema


Passado o frisson da Copa e das Olimpíadas, o Mané Garrincha voltou à dura realidade. Nas partidas realizadas pelo campeonato brasiliense a ocupação do estádio tem sido baixíssima. No Candangão 2017, por exemplo, foram realizados dezessete jogos com média inferior de 900 pagantes.  

Neste ano (2018), a rotina foi quebrada duas vezes com jogos entre equipes de fora, ambos com públicos superiores a vinte mil pessoas. Essa diferença é o centro de um dilema: a vinda de jogos de outros estados. O abismo entre os números leva a crer que, para o Mané Garrincha, a presença dos times dos grandes centros é questão de sobrevivência.  

Há uma corrente que defende a proibição da venda do mando de campo. Paulo Vinícius Coelho apoia e exemplifica: “O Flamengo tem que jogar no Rio de Janeiro, o Vasco também”. Kleyber Beltrão vê que os jogos de outros estados são a salvação para o futebol, “além da importância para toda a cadeia - hotéis, restaurantes, taxis, manutenção do Mané Garrincha”.  

O desenvolvimento do futebol de Brasília diminuiria a dependência externa. É um processo difícil e longo, mas o brasiliense já deu provas de que gosta de espetáculos de qualidade e investir seria o caminho. PVC imagina que, “se Brasília tivesse um clube que usasse o estádio na primeira divisão, daria resultado”.  

O presidente da Federação Brasiliense de Futebol em 2018, Erivaldo Alves Pereira, atribui ao Mané Garrincha o papel de fomentador do futebol do Distrito Federal. “A sua utilização assídua atrai mais torcedores e, com isso, o desenvolvimento do futebol será cada vez mais viável”. O presidente afirma que é imperativo que os clubes montem bons elencos e se organizem para atrair os torcedores.


O êxito de qualquer esporte depende da imprensa, dos clubes e da Federação. Essa é a opinião de Kleyber Beltrão. O narrador diz que a sensação num estádio vazio é ruim: “Narrar num estádio com menos de cem pessoas, como se inventa emoção se não tem nem grito?”.




Iniciativa privada


O Mané Garrincha é um dos três estádios da Copa do Mundo administrados pelo poder público. A Arena da Amazônia e a Arena Pantanal são os outros dois. No caso de Brasília, o estádio está sob a administração da Secretaria do Esporte, Turismo e Lazer. Segundo o órgão, as despesas mensais giram em torno de R$ 700 mil e a receita total do ano de 2016 foi de pouco mais de R$ 1,7 milhão. O prejuízo com o estádio foi considerável: aproximadamente, R$ 550 mil mensais. 

Com o evidente desequilíbrio nas contas, a transferência da administração do estádio para a iniciativa privada, com o consequente alívio nas contas do governo, pode ser uma opção. No entanto, não é um processo simples: há que se pensar na população do Distrito Federal, ou seja, o que o brasiliense ganharia com isso.  

O futebol faz parte da cultura popular brasileira e, por ser popular, subentendese que o acesso deva ser democrático. No entanto, não é o que se observa. Sob a justificativa da qualidade das arenas, o preço dos ingressos, geralmente, é salgado para o torcedor em geral. Em jogos realizados entre times de outros estados e organizados por empresas privadas, os preços mais baixos da entrada inteira variaram entre R$ 80 e R$ 160.  

Valores assim elitizam o espetáculo. Kleyber Beltrão reclama dos preços praticados: “Essas pessoas que trazem os jogos para cá têm que saber que aqui não é o mapa da mina. Temos a maior renda per capita do país, mas deveriam ser mais conscientes e colocar preços acessíveis”.


ENTREVISTA

Péricles de Carvalho, 62, é considerado um dos maiores jogadores que o futebol brasiliense já revelou. Nascido em Uberaba, em 1954, veio com a família para Brasília meses depois da inauguração. Seu pai, Didi de Carvalho, foi técnico de times amadores da Capital e iniciou Péricles no futebol. Profissionalmente, começou a carreira no CEUB. Foi campeão e artilheiro pelo Brasília, Gama e Taguatinga. Fora, jogou pelo Atlético Mineiro, Goiânia, Mixto, Guarani, São Bento, Grêmio Maringá, Uberlândia. Péricles esteve em campo no primeiro jogo do Mané Garrincha em 1974. Atualmente, trabalha no ramo de e-Commerce.


Qual a expectativa dos jogadores, nos anos 70, com relação à construção de um grande estádio em Brasília?

A expectativa foi igual com o Serra Dourada e com o Mineirão. Esperávamos que aqui tivesse aquele estouro. Não só os jogadores, mas a população também. Ninguém sabia de nada de Minas Gerais até a inauguração do Mineirão. E o Serra Dourada foi a grande alavanca do futebol de Goiás.

Você lembra do jogo de inauguração?

Foi numa tarde de domingo. Perdemos de 2x1. Logo no começo me machuquei e tive que sair. O estádio ainda estava inacabado. Sempre foi inacabado. Mesmo com a construção da parte superior ainda faltava completar o anel. Quando foram cobrir a parte superior da arquibancada, a estrutura metálica caiu e ficou anos interditada.

Qual o jogo mais marcante para você no Mané Garrincha?

CEUB e Santos, em 1974. Perdemos de 3x1. Foi uma polêmica porque o Pedro Pradera disse que “Pelé era Rei pras negas dele”. Pelé mandou um recado que o negócio ia pegar. E pegou mesmo. Pelé marcou gol, jogou pra caramba. Teve um lance que ele ficou olhando a bola e o Dario foi por trás para tentar tirar. Pelé deu um toque por baixo das pernas dele e o Dario passou reto. Foi um estrondo na torcida. Foi um jogo marcante para o torcedor aqui.

Qual o gol que mais te marcou?

Marquei muitos gols, mas o que me marcou foi contra o Figueirense. No jogo anterior, perdemos de 1x0 para o Flamengo, com o Mané Garrincha abarrotado. Quebrei o nariz porque o Geraldo me deu uma cotovelada. Contra o Figueirense joguei com uma tala. Corria e sentia o negócio tremendo, doendo. Numa tabela entre eu, Dario e Juraci, a bola sobrou quase no bico da pequena área. O goleiro saiu e eu dei um toquinho por baixo da bola. Isso deixa a gente lembrando mais pelo sacrifício do que pela beleza.

Quando soube da construção do novo Mané Garrincha, achou interessante para Brasília?


Achei uma maravilha que se fizesse uma maquiagem. Fizesse a cobertura para 40 mil pessoas. Conheço o futebol de Brasília e sei que suporta isso. Muita gente disse que tinha que colocar 70, 80 mil que isso, aquilo, que é a Capital. Arrumei muita briga, inimizade por causa disso. Muita gente queria ganhar dinheiro e eu dava entrevista que era contra. Nunca fui depois de pronto. Fui na construção para dar entrevistas. Nem sei como é lá hoje.


*** FIM ***



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