Arquibancada: AMÉRICA-RN - Era uma comemoração histórica e eu estava lá!

Nome: Átila Pessoa Costa
Onde mora: Brasília - DF
Time do coração: AMÉRICA-RN

Porque América ?

Tem a melhor torcida do Rio Grande do Norte, estado que nasci. Não é apenas uma questão de quantidade, mas de qualidade. Quando pequeno ia com meu pai ver os jogos em cadeira cativa onde ficava a torcida do Mecão, quando jovem joguei nas categorias de base do clube e quando adulto vivi de perto a realidade do time como jornalista na mais emocionante ascensão à série A de um time do Nordeste. Essa construção de fatores me ligou ao América-RN como time do coração e como o único time para torcer. Como nem sempre vencemos, cada vitória é valorizada ao extremo. Essas alegrias unem os americanos e acabamos em Brasília reunindo outros amigos americanos para fazer carreatas nas Esplanada dos Ministérios sempre que vem as grandes conquistas e títulos relevantes.

O que te marcou ?

América Campeão do Nordeste 1998

Nunca entendi os motivos de nunca ter sido sempre assim. Eu tinha entrado na TV Cabugi em abril de 1996. Em poucos meses o América chegou ao título estadual e ainda naquele ano conquistou a ascensão para a série A do brasileirão. Em 1997 a campanha na série A foi bastante adequada para o porte do time americano, que tinha a modesta meta de se manter no campeonato e terminou com Gito como o zagueiro artilheiro. 1998, apesar das mudanças no time, começou com o embalo de time emergente.

O América estava aparecendo para o Brasil e naturalmente estava habilitado a ocupar seu lugar como um dos melhores na Copa do Nordeste. Passada as duas fases de classificação em disputa acirrada, o América terminaria frente a frente com o Vitória da Bahia. Os baianos tinham ampla vantagem quanto ao time e retrospecto. No álbum de figurinhas tinha jogadores de grande potencial no elenco - de botar medo no mais esperançoso torcedor potiguar. O América, sempre limitado de investimentos, juntava os cacos e o técnico Arthurzinho que abusava da criatividade para botar um time inteiro em campo. Jogadores que vinham da base como Rogerinho e Lima estariam entre os nomes que salvariam a pátria alvirubra. Paulinho Kobayashi era grande nome americano que junto com Moura e Carioca deram qualidade no toque do meio-campo. Mas era complicado. O Mecão tinha Biro-Biro, que por mais habilidade que tivesse, não conseguia ser comparado ao gringo Petkovit. Pet armava, batia falta, driblava, fazia gol, era um monstro. De fato, o Vitória de Hélio dos Anjos era muito organizado e tinha várias goleadas no campeonato, inclusive a maior delas fazendo 7 a 1 no CRB de Alagoas. Por essas e outras vencer o Vitória era mais do que vencer um simples campeonato.

Essa conta não poderia ser feita em balcão de padaria. No primeiro jogo o time de Natal perdeu o jogo em Salvador. Mas a tão esperada goleada soteropolitana ficou em um magro 2 a 1. Esse golzinho de Leonardo iria fazer história para o time americano, até mesmo porque o desempate do Vitória veio do finalzinho do jogo e o América descobriu que poderia fazer mais. Era a nitroglicerina que falta a comissão técnica americana. De tudo pode se falar das loucuras do técnico Arthurzinho, mas nunca vamos esquecer a vontade de vencer mesmo diante das dificuldades. Ele fazia mudanças sempre para jogar o time pro ataque. A impressão que dava era que a defesa americana ficava sempre muito em desvantagem para os contra-ataques. No fim deu tudo certo. Ele literalmente perturbava o time adversário e praticamente obrigava os outros a se reorganizarem, pois o América iria jogar apoiado no velho jargão de que a melhor defesa é o ataque.

Naquela noite além de fazer a reportagem sobre o jogo para a TV Cabugi eu fiquei com a incumbência de entrar ao vivo no meio da programação já que teríamos link num intervalo do "Você Decide". E lá fui eu para o campo com um olho lá e outro acolá. Comecei a escrever um texto para deixar tudo em 1 minuto e dai saiu o primeiro gol. Gol do América. Biro-Biro, que não deu bolas para Petkovit, fez 1 a 0 em 1 minuto. Foi um início de jogo quente e antes que o Vitória esboçasse uma reação, Paulinho Kobayashi fez o segundo gol e isso estava bem de acordo com o texto que eu escrevia. Até aí, tudo em paz. Era um jogo disputado mas não estavam saindo muitos chutes dento da área do gol. O placar ficaria por aí. Ledo engano.

No começo do segundo tempo o Vitória diminuiu e lá fui eu mudar o texto. O link iria entrar e eu iria falar dos pênaltis. O placar de 2 a 1 era o mesmo do primeiro jogo. Para minha "sorte" começava uma chuva fininha. O suficiente para molhar minhas anotações (não existia ipad/iphone naquele tempo) e já não conseguia mais escrever nada naquela sopa de papel. O rascunho foi em definitivo para o bolso.

O link passou para o intervalo seguinte. Era um componente a mais para o jogo que ficava tenso. A ideia da transmissão, chuva, tempo passando, Vitória atacando, meu óculos cheios de bolhas d'Água... está tudo ficando cada vez mais complicado. Eu já estava de costas para o campo, pronto para entrar no ar, quando o América sofreu um pênalti. E aos 34 minutos do 2º tempo o meio-campista Carioca, o mais excêntrico batedor de pênaltis que vi, fez o terceiro gol americano. Cabe um destaque: Carioca era vesgo e aprendeu com Julio César Leal a sempre se concentrar para a batida olhando bem para onde chutaria a bola. Os goleiros nunca aprendiam para onde ele olhava. Dida que o diga. O Cruzeiro chegou a tomar 2 goles de Carioca de pênalti num mesmo jogo.

Voltando ao jogo no Machadão, nada do link entrar. Vendo o jogo/campeonato perdido, o Vitória foi para o tudo ou nada. Tentava um gol para o título a qualquer preço. O América procurava ganhar tempo e numa das substituições ao final do jogo, chamei Leonardo que saiu para a entrada de Vanderlei. Veio o link. Falamos ao vivo com o jogo encerrando. O juiz pernambucano Wilson de Souza Mendonça apontou para o centro. Fim de jogo. Era uma comemoração histórica para todos nós, o time vermelho deu o sangue e superou todas as expectativas. Eu estava lá. Acompanhei a montagem do time, a loucura de Maeterlink Rego (médico) resolver calo de chuteira nova e a escalação com jogadores novos literalmente indo para à fogueira. A matemática de cartões e as próprias limitações do time potiguar que, apesar dos destaques, mantinha o seu discurso entre a modéstia e o possível. Sim, os vencedores também sofreram. Sofreram para montar o time, para pagar folha, para treinar, para jogar, para dispensar. Nunca foi trivial e o que tínhamos naquela noite era uma conquista do futebol potiguar.

Ao final, corremos para a TV preparar o material para o Bom Dia RN e para o Globo Esporte. Deu tudo certo. Material finalizado, hora de ir para casa e tirar aquele bolo de papel molhado do bolso. A história já estava escrita em nossos corações e mentes.

Mecão, mostra sua raça !!!



Essa é parte da história de Átila com seu Mecão. 
Paixões como essa sempre nos emocionam e inspiram.
Quer ter sua paixão pelo time de coração publicada aqui também ?
Siga-nos no instagram e saiba como: @opitacoemeu


O Pitaco é Meu

Comentários